quarta-feira, setembro 08, 2004

Algarve: «As férias que ninguém quis»

07-09-2004 16:20
Patrícia Pires

REPORTAGEM: Numa semana, PDiário procurou os motivos da crise

Portugal recebeu o Euro2004 mas nem assim este parece ter sido um bom ano para o turismo algarvio. Os empresários queixam-se e os turistas também. As praias, pelo menos uma parte, ainda são boas e o mar é o «mais quente» do
país. Qual o motivo da crise?

Lisboa. 28 de Agosto. Hora de partida: 11:30 minutos. Destino: Algarve. Para evitar 15 euros em portagens o PortugalDiário saiu da auto-estrada em Grândola e aproveitou para almoçar um tradicional cozido à portuguesa na zona de Canal Caveira. Pouco mais de 16 euros foi a despesa final do almoço.

Sete noites de estadia num aparthotel na zona dos Salgados, entre Albufeira e Armação de Pêra, custaram 242 euros. Logo à chegada o primeiro «reparo»: na porta do quarto as instruções de como agir «em caso de emergência» estavam apenas escritas em inglês. Se não perceber a língua o melhor será «imitar» os «estrangeiros» no momento da fuga.

Bastou uma primeira ida às compras do dia para «reparar nos preços». Até nos hipermercados estes divergem dos valores de outras superfícies, noutras cidades do país. O leite foi uma boa referência, entre outras.

Armação de Pêra está em obras na «estrada principal» para chegar ao centro da cidade. Estão a ser construídas seis rotundas e se no futuro vão trazer frutos, por agora, só atrapalham quem por ali passa. E não podemos esquecer
que ainda é Agosto.

Prédios, prédios e mais prédios. Os que já estavam. Os que ficaram prontos e os que estão a ser construídos. Há dinheiro para tanta casa? Ainda por cima o efeito «cogumelo» da construção é comum no espaço entre o barlavento o sotavento algarvio.

Por todo o lado lê-se : «Vende-se ». E se nos prédios novos esta mensagem nos faz acreditar que há dinheiro para tudo. As placas de vendas nos prédios mais antigos levantam suspeitas. E nem as vivendas escapam à debandada.

À porta os restaurantes têm o menu em inglês, francês e alemão. Todavia, o português também lá está. Em quase todos existe o típico «English Breakfeast» - com salsichas, ovos e feijão -, mas as típicas pastelarias são poucas. Felizmente ainda escapa «a bola de berlim» vendida na areia e que se mastiga juntamente com o sabor da infância.

Duas pessoas comerem por menos de 25 euros, num restaurante algarvio razoável, é quase impossível. A não ser que se esteja disposto a aderir à moda «fast food». Procurámos uma pequena churrasqueira longe da avenida principal de Armação de Pêra e fomos surpreendidos com empregados a discutiram em frente dos clientes e as empregadas a «lutarem» pelas mesas onde estavam «jovens turistas» ansiosos por alguém que lhes mostrasse a noite na cidade. É melhor não falar na conta.

Outro dia, outro restaurante, outra cidade. Portimão. «Fresh fish ¿ peixe fresco» dizia o placard preto. Uma pequena dourada, que dava apenas para uma pessoa, custou 15 euros. Além de fresco era «caro», mas isso não estava no placard preto. Aliás, demasiado caro para o peixe, para o seu tamanho e para a sua frescura. Outra «conta» para esquecer.

O PortugalDiário quis fugir do stress das férias e foi ao cinema. Depois dos bilhetes comprados, escolheu-se um restaurante para jantar no mega shopping. Ao fim de uma hora a comida não tinha chegado à mesa e o cinema começava dentro de 15 minutos. «Houve um problema, o cozinheiro esqueceu-se da espetada mista». Resultado: o jantar, que não houve, custou dez euros e uma barriga vazia durante o filme. Para completar houve intervalo. Um longo intervalo. Um imenso intervalo. Alguém se esqueceu que faltava ver a segunda parte da fita. Depois de algumas reclamações chegou o «The end».

Nas ruas perto dos bares, em Albufeira, porta sim, porta sim encontrámos lojas. Todas iguais. Mas nos passeios há uns jovens de papéis coloridos nas mãos que fazem publicidade a bares e restaurantes entre sorrisos. Tudo estaria bem se não fossem louros de olhos claros e falassem apenas com os louros de olhos claros. Leia-se «de estrangeiro para estrangeiro». Para conhecer o lugar da moda o português vai ter de procurá-lo sozinho.

O branco é a cor que inunda a paisagem algarvia. Casas baixas e brancas, espalhadas por entre a paisagem. A destoar está a multicolorida marina de Albufeira que tem tantas cores como o arco-íris. Sem querermos ofender o responsável pelo projecto, ao longe, fica a dúvida se o que estamos a ver são casinhas «lego» em ponto grande ou um bairro social com ar moderno.

O PortugalDiário confessa que já viu mais gente por aquelas bandas. Isso é um facto. Havia menos pessoas no Algarve. Mas ao fim de sete dias é preciso perguntar. Estas desventuras só aconteceram porque o PD é um jornal azarento? Ou estão aqui algumas pistas para a crise algarvia? Queria estas férias?

Salgados. Seis de Setembro. Hora de partida: 11:30. Destino: Lisboa. O mesmo percurso da vinda. O cozido estava bom. Conta do almoço: 15,70 euros. O melhor da viagem: pouco trânsito e algumas praias fantásticas que ainda merecem a nossa visita.

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