Classificaria este disco como coerente, bem construído, com harmonias relaxantes e com sonoridade de elevada qualidade.
As vozes convidadas, Marisa Pinto e Rodrigo Dias, soam estranhas, como se os intérpretes tivessem sido arrancados a um planeta distante e estivessem pouco acostumados à pressão atmosférica terrestre. Isso confere a este disco uma característica obscura, de difícil interpretação, mas que causa ao ouvinte uma sensação de relaxe pouco usual, apenas alcançável através da audição de projectos como Lamb, Bjork ou Tricky (sem querer traçar paralelos).
O aparecimento de instrumentos orgânicos no interior das músicas como xilofones, pianos ou saxofones causa uma vertigem positiva elevando o resultado a um outro nível. Este factor parece-me peremptório na definição do perfil inovador e distinto deste projecto.
As emendas entre algumas músicas podiam estar melhor trabalhadas. Algo que será certamente corrigido numa edição oficial desta maqueta. O problema é de fácil resolução, podendo na maioria dos casos ser solucionado adicionando um segundo de silêncio entre as faixas em questão.
O trabalho como um todo parece-me de elevada qualidade, ao nível do melhor que se faz na Europa. A época em que surge não poderia ser mais apropriada. O facto de o autor ter nascido e viver actualmente no Porto facilita a sua localização geográfica no mundo, e auxilia o seu relacionamento com possíveis editoras ou músicos que já se movimentem confortavelmente no meio. A campanha de música portuguesa empossada pela Antena 3 faz também com que este projecto tenha hipóteses de ser lançado com o requinte que merece, bastando para isso contactar as pessoas certas.
Um factor que poderá dificultar a sua divulgação tem que ver com o facto de se tratar de uma one-man-band, suportada essencialmente por instrumentos electrónicos e computadores. Este factor poderá dificultar a execução de concertos ao vivo. Uma banda vende, na maioria dos casos, pela imagem de palco que consegue transmitir ao seu público. Reconheço, no entanto, que no domínio musical em que este disco se insere, os concertos não são frequentes. Por essa razão o foco deverá ser, inquestionavelmente, internacional, pois este tipo de bandas move-se majestosamente num circuito reduzido de bares e discotecas in que proliferam um pouco por toda a Europa. Será da responsabilidade de uma editora especializada, habituada a trabalhar nestes circuitos, a promoção adequada deste projecto. Uma tentativa de internacionalização tem tudo para ser bem sucedida uma vez que neste momento Portugal está nos olhos da Europa e do mundo.
Bom trabalho e boa sorte!
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