segunda-feira, abril 02, 2007

"Open Music" for All


Caríssimos,

Esta questão da pirataria musical tem que ser exclarecida de uma vez por todas, pois é uma discussão que me enerva profundamente. Fico completamente transtornado quando vejo músicos como Vitorino ou aquele senhor que canta para os Blind Zero (cujo nome agora me escapa) a lutar pelo fim da pirataria e dos downloads ilegais. Porquê pôr músicos a lutar contra a pirataria quando são eles mesmos os que mais lucram com esse fenómeno?!

Senão vejamos... São conhecidos os acordos entre editoras e músicos. Poderão haver variações neste modelo, mas duma maneira geral funciona da seguinte forma. Na venda de discos a repartição dos lucros é de 80% para a editora e 20% para o músico. Na realização de concertos, é ao contrário, ou seja, 80% para o músico e apenas 20% para a editora. No caso das editoras de livros, a discrepância é ainda maior. Na venda de um livro de 20 euros o autor recebe cerca de 1.2 euros.

O argumento de que os discos não estão a baixar de preço também não é válida. Ontem mesmo estive na FNAC e fiquei muito admirado quando reparei que a maior parte dos discos andam pelos 12 euros (o novo de Tool estava a 10 euros). Eu nunca fui muito de comprar discos (sempre tive a sorte de ter amigos que o fazem) mas ainda me lembro quando há uns 10 anos um disco custava no mínimo uns 3 contos e quinhentos, sendo que a maior parte deles andava mesmo pelos 4 contos.

Acho bem que as editoras estejam irritadas... acho bem que os músicos também estejam... enquanto não compreenderem que o modelo econónico que suporta a indústria está a mudar radicalmente vão ficar cada vez mais chateados.

O ponto é o seguinte.... a tendência na sociedade é para que todos os bens não materiais sejam gratuítos. Os suportes digitais, as redes, a "informação" no seu sentido mais lato, não consome recursos da natureza, pelo que deveria ser de borla, isto é, de toda a gente. Quem quiser ter o CDzinho em casa com as belas capinhas (como o Marco tanto insiste) acho bem que pague pelas árvores que foram abatidas e pelo petrólio necessário para o plástico do CD. Agora, quem quer ouvir música no seu leitor de MP3, porque é que há-de pagar? Os músicos já possuem tecnologia que chegue para que não precisem de grandes estúdios (vejam o Bruno que faz discos no seu PC). Eles próprios já possuem canais de disseminação eficazes para sua música como por exemplo a Internet. Veja-se ainda o exemplo dos Arcade Fire (ou serão os Arctic Monkeys?!?!) que ficaram super famosos depois de colocar o seu disco no myspace.

Onde o músico poderá ganhar dinheiro é nos concertos. Como é evidente! E mesmo esses diria eu, terão uma tendência para ficar cada vez mais gratuítos, pois vão passar a ser financiados/patrocinados por Câmaras Municipais, empresas, etc. Para além disso, os músicos já ganham dinheiro que chegue. Porque é que um músico há-de ganhar mais dinheiro que um médico ou um cientista? Acham mesmo que a sua profissão é mais importante que as demais? Acham que trabalham mais horas? Será uma profissão de desgaste intenso? Quanto menos dinheiro tiverem nas mãos menos drogas irão consumir, o que se virem bem, até é algo que abona a seu favor (e não me venham com a treta de que um músico sóbrio não sabe compor).

O mesmo acontece com o cinema. Não tenho pena nenhuma dos titãs de hollywood. Enquanto os cinemas continuarem com a qualidade deplorável que apresentam actualmente e aos preços que praticam, acho bem que vão todos à falência. Se for à custa de downloads ilegais, tanto melhor. Eles deviam colocar a si mesmo a seguinte questão. Porque é que as pessoas preferem ver um filme em casa gravado da net com baixa qualidade nas suas televisões merdosas em vez de pagar 5 euros por pessoa para o ver numa tela gigante?
A resposta é simples, porque esse preço é excessivo. Por 5 euros, a sala de cinema devia abanar durante a perseguição do automóvel, devia encher-se de nevoeiro quando perseguimos o bandido pelo pântano, devia ser no mínimo 3D (acerca disto, se tiverem oportunidade vão a um cinema IMAX. É espetacular).

Esse é o mesmo problema que assola os transportes neste país. Enquanto estes não forem no mínimo 7 vezes mais baratos do que utilizar o nosso carro, ninguém com hipótese de os evitar os irá utilizar.

O mesmo fenómeno de eliminação de preços está já a acontecer em inúmeras outras áreas de negócio. Lembrem-se o open-source para o software e do open-access para publicações científicas. A boa notícia é que já há editoras que trabalham sob licenças open-music (e.g. http://www.magnatune.com/info/openmusic).

Abraços!